20140825

Sonhos e esgotamentos

 
 

1

Aproximo-me de um lago com a intenção de lhe atirar uma pedra.
Existem imensos seixos nas margens desse lago cujo tom azul-escuro sugere águas frias e profundas.
Agarro num deles. Nesse sonho demorei uma imensidão de tempo a escolhê-lo não sei porquê.
Estive um tempo inusitado a sopesá-lo na mão, rolando-o entre o olhar e os dedos.

2
Quando o atirei, primeiro ouviu-se o tradicional pouuf da queda na água.
O que mais estranhei foi não ter causado a mínima ondulação, seguido do desaparecimento de qualquer impacto. Pura e simplesmente os sons desapareceram.
Esse desaparecimento, que não tinha nada a ver com a surdez, resgatou-me de um cansaço imenso.
Durante os breves instantes que durou esse momento ,percebi perfeitamente as pessoas cujo alimento é o silêncio.

3
Gostava de ir andando até me deixar tapar por um lago de silêncio, pensei.

4
Os sons normalmente maçam-me.
Abro uma exceção para um som que me transporta para as tonalidades da esperança. Refiro-me à flauta dos amola-tesouras. É um som que já ouvia desde a infância. Tornou-se raro e permanece antigo. Dizem que adivinha a chuva, o que o torna familiar e suportável. Não seria por sua causa que o meu lago de silêncio secava.

 

 

 

 

7 comentários:

  1. De travo alho surreal,
    bem engendrado, no seu mistério!
    Saudações poéticas!

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  2. Um texto maravilhoso.Também gosto de me alimentar do silêncio. Também gosto de ouvir a flauta do amola-tesouras que ainda passa na minha rua...
    Gostei do muro branco com sombras...
    Um abraço.

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  3. Saudações, meu caro poeta.
    Obrigado, Graça. Um abraço.

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  4. Até as sombras parecem estar cansadas e a descansar no meio deste belo silêncio de paisagem.

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  5. É verdade. Até as sombras parecem descansar...
    :)

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  6. Sombra loca, hija de sí misma, sombra sin asombro, causante de la luz

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