20130203

Não é que não exista




Dia 5
Quando a dor é muita. Ou a perda um abismo. Ou o susto quase a tirar a vida. Ou a vida a assustar que se tira.
Aí, nós, os outros do lado de lá dessa cortina, ficamos invisíveis.
É pouco rigoroso materializar essa ideia de invisibilidade numa sombra. Mas como se pode ser rigoroso quando nos dói tanto essa tripla dor que é a ferida amada e a nossa invisibilidade somada à dúvida se o amor cura?

Dia 7
  Ou um barulho imenso, quase bíblico. Um rugido vindo de cima e é um prédio de exactamente doze andares que te cai em cima. Olhas à tua volta e não entendes o caos. Tude desaba e não te mexes nem um milímetro. O ruído abafado é estranhamente longínquo, tudo é estranhamente longínquo menos tu no meio de tudo.
Quando olhas para cima és atingida por um fragmento que não tem mais de 2 centímetros e meio mas que te deixa numa perplexidade profunda. Tão profunda que não entendes como tudo sossega de repente. Tão de repente que só sobras tu no meio desse caos desaparecido.
E eu. Mas eu tornei-me invisível. Não é que não exista.


Dia 10









Aos poucos a invisibilidade transforma-se num rio.

Um pouco como nesta fotografia de  Frederique Masselink . 

2 comentários:

  1. Uma ficção que encanta pela narrativa e pelas semelhanças com os estilhaços de todos nós, os atingidos pelas coisas que no caem na cabeça...

    Eu gosto do que tu escreves, consigo perceber os sentimentos.

    um beijo.

    ResponderEliminar

Obrigado pela visita.
As suas palavras são importantes.