Medeia algum tempo entre a descoberta fortuita de algumas estátuas encontradas
por um camponês italiano em 1748, e os trabalhos que o Professor, arqueólogo e
helenista Baldassare Conticello executou já no século passado pondo a
descoberto a antiga cidade da Câmpania, de cerca de trinta mil habitantes,
lugar de prazer e recreio para os romanos ricos.
Entre outras coisas, as escavações puseram a descoberto os bordéis do
Imperador. Com efeito, para além da evidência dos seus frescos, a erupção do
Vesúvio, em 79, surpreendeu alguns dos seus clientes em plena erecção.
Li, algures, que a queda de Pompeia se ficou a dever à ira divina que,
assim, com o fogo e as cinzas, destruiu esse lugar de luxúria e devassidão.
Esta hipótese, mesmo que piedosa, apresenta-se-me naturalmente inverosímil.
Esta dedução devo-a quer à análise aos frescos de Pompeia, quer à concepção que
dos deuses possuo, dos deuses romanos em particular.
Não é isso no entanto o que curiosamente me interessa. Antes, e talvez
uma vez mais o tempo, o esquecimento, sobretudo essa espécie de ferida da
memória e uma certa sensação de tristeza, uma triste calma provocada pela
beleza, e por essa mesma ferida desencadeada.
Existe uma relação óbvia entre o tempo e o esquecimento, mas não nessa
acepção vulgar que atribuímos a ambas as palavras. Suponho mesmo que é o
esquecimento que produz o tempo, e não o seu contrário.
Os frescos de Pompeia deveriam assim a sua inesgotável perturbação e
beleza a esse estranho fenómeno e ás condições em que ocorreu a destruição da
cidade. O castigo divino, mesmo que se tivesse verificado, não teria influência
alguma.
Não acredito em castigos de deuses... Mas acredito na incúria dos humanos....
ResponderEliminarBeijo.