20150206

Do tempo


Medeia algum tempo entre a descoberta fortuita de algumas estátuas encontradas por um camponês italiano em 1748, e os trabalhos que o Professor, arqueólogo e helenista Baldassare Conticello executou já no século passado pondo a descoberto a antiga cidade da Câmpania, de cerca de trinta mil habitantes, lugar de prazer e recreio para os romanos ricos.
Entre outras coisas, as escavações puseram a descoberto os bordéis do Imperador. Com efeito, para além da evidência dos seus frescos, a erupção do Vesúvio, em 79, surpreendeu alguns dos seus clientes em plena erecção.

Li, algures, que a queda de Pompeia se ficou a dever à ira divina que, assim, com o fogo e as cinzas, destruiu esse lugar de luxúria e devassidão. Esta hipótese, mesmo que piedosa, apresenta-se-me naturalmente inverosímil. Esta dedução devo-a quer à análise aos frescos de Pompeia, quer à concepção que dos deuses possuo, dos deuses romanos em particular.

Não é isso no entanto o que curiosamente me interessa. Antes, e talvez uma vez mais o tempo, o esquecimento, sobretudo essa espécie de ferida da memória e uma certa sensação de tristeza, uma triste calma provocada pela beleza, e por essa mesma ferida desencadeada.

Existe uma relação óbvia entre o tempo e o esquecimento, mas não nessa acepção vulgar que atribuímos a ambas as palavras. Suponho mesmo que é o esquecimento que produz o tempo, e não o seu contrário.
Os frescos de Pompeia deveriam assim a sua inesgotável perturbação e beleza a esse estranho fenómeno e ás condições em que ocorreu a destruição da cidade. O castigo divino, mesmo que se tivesse verificado, não teria influência alguma.



1 comentário:

  1. Não acredito em castigos de deuses... Mas acredito na incúria dos humanos....
    Beijo.

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