20140701

A casa



Nos meus sonhos, entre os seis e os doze ou treze anos, era recorrente aparecer sempre a mesma casa, uma casa onde nunca encontrei qualquer pessoa e que ainda tinha alguma mobília, muito antiga e com cortinas invulgarmente grenás e pesadas.
 O mobiliário era quase todo constituído por móveis de parede. O soalho parecia-me enorme, assim como os tectos, invulgarmente altos. Não me recordo de ter visto qualquer janela.
Nela entrava por umas escadas de madeira intermináveis que me davam acesso a um número imprevisível de divisões, já que a casa, no seu interior, se alterava, criando ela própria novas escadas, pátios interiores, divisões inesperadas. O meu sonho iniciava-se sempre já a meio da subida dessas escadas.
A casa, embora reduzida a menos de um terço do mobiliário e sem qualquer habitante, não apresentava qualquer sinal de pó ou de degradação nos materiais. Nunca lá encontrei algum livro ou apesar das suas dimensões, qualquer escritório ou biblioteca.
Este sonho repetiu-se incontáveis vezes a tal ponto que, ainda hoje, se encontrasse esse sítio, o reconheceria sem dificuldade.

Nas próximas fotografias, é como se regressasse simbolicamente a esse lugar passados quarenta e dois anos, e o meu maior prazer vai ser descobrir não uma mas várias janelas… e elas darão para o mar, porque é assim que eu quero e me apetece.

4 comentários:

  1. Ah! esta foto me gusta mucho, José. Las puertas están abiertas a la luz y dan una sensación de querer seguir y encontrarnos con esas ventanas abiertas al mar.
    Tus sueños y tus fotos sobre la casa y sus pasadizos y rincones, me recordaron a Bachelard, en su libro La poética del espacio, donde habla justamente de la casa, los recuerdos y las ensoñaciones. "La casa es nuestro rincón del mundo... nuestro primer universo" -dice- "...existe para cada uno de nosotros una casa onírica, una casa del recuerdo-sueño, perdida en la sombra de un más allá del pasado verdadero".
    Me encanta tu serie!
    Un beso

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  2. E voltar a viver os sonhos será uma coisa boa?
    Para o interveniente dos sonhos, não sei se será.
    Mas quem estiver a ver o resultado fotográfico (como eu) tenho a certeza que será.
    E uma coisa é certa: Começa bem.

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  3. Alguien quizo que esa puerta permaneciera entreabierta...

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  4. A imagem fotográfica, quando excede o limite da reprodução, da reprodução do real, também ela pode servir como o elemento “deflagrador” que refere Bachelard para a poesia e que permite que a casa inicial, a que habita o nosso inconsciente e aí é indelével, aflore à superfície.
    Que bom se ter lembrado de “A poética do espaço”, Laura. Não imagina há quanto tempo não relia, mesmo que mentalmente, Bachelard.
    .
    Faz sempre bem, Remus. Como é que voltar pode fazer mal? Não se trata de voltar para trás. Apenas regressar pelo tempo que for necessário. Se apenas formos sempre em frente é que temos forte possibilidade de nos aleijarmos…
    .
    Sempre atento aos detalhes, Daniel…
    ;)

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