Regresso e agarro-me
ao que me lembro como se isso me salvasse. E eu preciso cada vez mais de sons
dentro da minha cabeça, sons de coisas que aí cresçam. Pode ser o nome de um
livro, ou um excerto extraído talvez das suas páginas, não sei bem. Não tem a
ver com o amor, não é um nome, não é o nome de ninguém.
Pode ser de um chá antigo, ou de
uma rua, de um hotel que já desapareceu.
Se me esforçasse conseguiria
saber o grau de humidade quase exata dos sítios onde dormi ao longo da minha
vida. Dormir é uma atividade séria, adormecer em sítios desconhecidos requer
que se confie, ou se esteja imensamente exausto, ou apaixonado, o que em termos
de resultados é difícil de distinguir. De qualquer forma é a memória dessa
humidade que me permite distinguir uma casa abandonada em Sintra ou em Avignon
do quarto de um hotel em Istambul. Só depois vem a luz
Acho que consigo recordar o exato
momento em que apaguei a luz em todos os quartos ou sítios onde adormeci. Em
contrapartida dava tudo por saber que livros estava a ler, em que páginas
exatas os interrompi.
Mais os livros que transportava
dentro de mim. Só sei os livros que transportava dentro de mim depois. A razão
é que nem sempre coincidem com os livros que estava ou não a ler. Com o tempo
tenho tendência a ligar menos aos enredos e mais ao que deixam .
Esse sedimento de palavras cheias de coisas dentro.
Otra carta rota!
ResponderEliminarMe encantó leer estas palabras tuyas.
Obrigado pelas palavras e por continuar a passar por este eremitério...
ResponderEliminar:)
abraço