20140425

Esse sedimento de palavras cheias de coisas dentro.




Regresso  e agarro-me ao que me lembro como se isso me salvasse. E eu preciso cada vez mais de sons dentro da minha cabeça, sons de coisas que aí cresçam. Pode ser o nome de um livro, ou um excerto extraído talvez das suas páginas, não sei bem. Não tem a ver com o amor, não é um nome, não é o nome de ninguém.
Pode ser de um chá antigo, ou de uma rua, de um hotel que já desapareceu.
Se me esforçasse conseguiria saber o grau de humidade quase exata dos sítios onde dormi ao longo da minha vida. Dormir é uma atividade séria, adormecer em sítios desconhecidos requer que se confie, ou se esteja imensamente exausto, ou apaixonado, o que em termos de resultados é difícil de distinguir. De qualquer forma é a memória dessa humidade que me permite distinguir uma casa abandonada em Sintra ou em Avignon do quarto de um hotel em Istambul. Só depois vem a luz
Acho que consigo recordar o exato momento em que apaguei a luz em todos os quartos ou sítios onde adormeci. Em contrapartida dava tudo por saber que livros estava a ler, em que páginas exatas os interrompi.

Mais os livros que transportava dentro de mim. Só sei os livros que transportava dentro de mim depois. A  razão é que nem sempre coincidem com os livros que estava ou não a ler. Com o tempo tenho tendência  a ligar menos aos enredos e mais ao que deixam . Esse sedimento de palavras cheias de coisas dentro.

2 comentários:

  1. Otra carta rota!
    Me encantó leer estas palabras tuyas.

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  2. Obrigado pelas palavras e por continuar a passar por este eremitério...
    :)
    abraço

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