Ah, mas tem aqui umas lindas flores que lhe deixou
a esposa, disse a rapariga.
C suspira como se esse gesto apagasse a luz. As
palavras chegam ao fim, quer dizer, deixam de se ouvir. Na realidade elas
continuam dentro de si com os seus pequenos ecos que o impedem de dormir.
Um fio de palavras, ou um veio de pequenos sons
cada vez mais longínquos, não mais do que isso.
(para o meu pai)
Ah, mas ele adorou as flores que lhe deixou, disse a rapariga.
A. sorri como se por esse gesto acendesse uma luz. Está cansada das
palavras, da repetição que implicam. Por isso as escreve como quem tece fios
idênticos aos que ajudaram os heróis antigos a sair dos labirintos. Um fio de
palavras.
Ninguém vai mudar a água às flores, pensa. Ninguém muda a água a
labirintos. E aflige-se .
(para a minha mãe)
«Nenhum de nós sabe o que existe e o que não existe. Vivemos de palavras. Vamos até à cova com palavras. Submetem-nos, subjugam-nos.»
ResponderEliminarRaul Brandão