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A ideia da série fotográfica “narrativas abertas” nasceu de uma visão. Passo a explicar.
Há uns dois anos, no Alentejo, à noite, para aí umas nove e meia da noite, fui dar uma volta a pé por causa do calor. De repente, numa esquina, inesperadamente uma vez que não havia ninguém na rua, aparece-me um cachorro novinho a contorná-la a grande velocidade, derrapando antes de seguir em frente. Seguiu-se um grande silêncio e eis que exactamente do mesmo sítio onde tinha ficado especado de surpresa, me aparece uma menina dos seus sete anos a correr atrás do bicho mas sem o chamar. De repente a menina pára, ou trava, no caso trava só para me dizer boa noite com a voz mais angélica e cristalina que se possa imaginar e desaparece na esquina seguinte seguindo o animal.
Já me têm dito que a dita série é das coisas mais esotéricas que tenho feito. Só conto este episódio sem nenhuma vontade de o complicar porque foi exactamente assim que se passou.
Os intervalos entre os sons, os passos, a sua ausência, numa pontuação extraordinária nunca mais me saíram da cabeça. Apenas tenho procurado registar isso numa imagem.
Nem sei se gosto mais da história ou da fotografia...
ResponderEliminarIncrível! Ambas!
então se é assim pois está bem...
ResponderEliminar(agora sem ironias: esta série há muito que me lembra uns desenhos animados antigos do Speedy Gonzalez, em que uns ratitos mui pobres estão a olhar, desolados, para uma televisão que é só a caixa da televisão, o Speedy Gonzalez chega e começa a contar-lhes histórias e é como se o buraco vazio se iluminasse juntamente com os olhos dos juvenis ratitos, ao ponto de um afirmar que até prefere esta televisão porque não tem anúncios. e isto a propósito das narrativas abertas, sem nenhuma vontade de complicar)
Embora caladinho, vou continuando a deslumbrar-me com as suas belíssimas fotografias, com texto ou sem texto. Do melhor.
ResponderEliminarJR
Nem sei o que dizer.
ResponderEliminarA história é deliciosa, mas a fotografia é soberba.
Esta historia andou a seguir-me, desde que a li. Dizem os entendidos que há muita coisa à nossa volta que não somos capazes de ver, de apreender.
ResponderEliminarA comunicação, aquilo que é trocado, depende não só daquilo que emite, mas principalmente da capacidade do receptor em captar. E é disso que gosto aqui neste cantinho, daquilo que é captado e depois transmitido, não consigo definir bem, mas gosto.(Muito.)
vai procurando, vai procuarndo e nós "gulosos" vamos aproveitando. gosto muito.
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