20110919

Apenas tenho procurado registar isso numa imagem

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A ideia da série fotográfica “narrativas abertas” nasceu de uma visão. Passo a explicar.
Há uns dois anos, no Alentejo, à noite, para aí umas nove e meia da noite, fui dar uma volta a pé por causa do calor. De repente, numa esquina, inesperadamente uma vez que não havia ninguém na rua, aparece-me um cachorro novinho a contorná-la a grande velocidade, derrapando antes de seguir em frente. Seguiu-se um grande silêncio e eis que exactamente do mesmo sítio onde tinha ficado especado de surpresa, me aparece uma menina dos seus sete anos a correr atrás do bicho mas sem o chamar. De repente a menina pára, ou trava, no caso trava só para me dizer boa noite com a voz mais angélica e cristalina que se possa imaginar e desaparece na esquina seguinte seguindo o animal.
Já me têm dito que a dita série é das coisas mais esotéricas que tenho feito. Só conto este episódio sem nenhuma vontade de o complicar porque foi exactamente assim que se passou.
Os intervalos entre os sons, os passos, a sua ausência, numa pontuação extraordinária nunca mais me saíram da cabeça. Apenas tenho procurado registar isso numa imagem.

6 comentários:

  1. Nem sei se gosto mais da história ou da fotografia...
    Incrível! Ambas!

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  2. então se é assim pois está bem...

    (agora sem ironias: esta série há muito que me lembra uns desenhos animados antigos do Speedy Gonzalez, em que uns ratitos mui pobres estão a olhar, desolados, para uma televisão que é só a caixa da televisão, o Speedy Gonzalez chega e começa a contar-lhes histórias e é como se o buraco vazio se iluminasse juntamente com os olhos dos juvenis ratitos, ao ponto de um afirmar que até prefere esta televisão porque não tem anúncios. e isto a propósito das narrativas abertas, sem nenhuma vontade de complicar)

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  3. Embora caladinho, vou continuando a deslumbrar-me com as suas belíssimas fotografias, com texto ou sem texto. Do melhor.

    JR

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  4. Nem sei o que dizer.
    A história é deliciosa, mas a fotografia é soberba.

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  5. Esta historia andou a seguir-me, desde que a li. Dizem os entendidos que há muita coisa à nossa volta que não somos capazes de ver, de apreender.
    A comunicação, aquilo que é trocado, depende não só daquilo que emite, mas principalmente da capacidade do receptor em captar. E é disso que gosto aqui neste cantinho, daquilo que é captado e depois transmitido, não consigo definir bem, mas gosto.(Muito.)

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  6. vai procurando, vai procuarndo e nós "gulosos" vamos aproveitando. gosto muito.

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