20110718

Era Agosto e não havia mais ninguém na praia

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Uma vez, na costa vicentina, quando falar desse sítio era como estar a falar de estaleiros de reparação de barcos para quem não soubesse onde isso ficava, vi uma coisa vir com as marés, um pequeno ponto negro que se aproximava. Nessa altura tanto fazia que viesse ou que se afastasse …amávamo-nos. Depois viemos a verificar que era uma vaca virada de pernas ao alto e a boiar, que deu à costa sem pressa nem classe, uma das patas parecia um mastro, pelo que a confundimos com um barco e começámos a imaginar náufragos e a ficar arrepiados. Era Agosto e não havia mais ninguém na praia. E agora que morreste, Isabel, e sinto sempre uma tristeza infinda, sabes só o que queria? Que fosse Agosto e não houvesse mais ninguém na praia. Não me interessava se dessem ou não à costa uma ou cem vacas a boiar. Apenas queria que não houvesse mais ninguém na praia. Cinco minutos às três horas da tarde sem ninguém na praia. Depois podiam voltar. As vacas, os banhistas, os nadadores salvadores, o pó que fazem.

(para a Manuela Caldeira, que sabe ainda, talvez, como se chega até lá.)

1 comentário:

  1. Pois...a costa Vicentina. A praia dos Aivados e muitas outras, nos anos 80. O campismo selvagem, ali, bem junto às águas que nos embalavam. Momentos de grande fe
    licidade.

    Obrigado por esta memória.

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