20101112

Dos sonhos,talvez.


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Em miúdo acreditava que estes mármores, quando molhados, se abriam para as praias que lhes deram origem. Como não me deixavam sair quando chovia nas quantidades que eu considerava necessárias, demorei ainda algum tempo a apanhar o primeiro desgosto.
O mecanismo era mais ou menos o seguinte: nas noites de temporal a água funcionava como uma espécie de cortina ou escada, uma escadaria, para ser mais exacto. O caso é que essa entrada dava acesso a uma casa antiga que visitei recorrentemente em sonhos entre os meus sete e os trezes anos. Disso tudo sobrou uma construção que não existe em mais sítio nenhum, uma praia cujas rochas mudaram pouco desde a infância e meia dúzia de colunas que me continuam a fazer sonhar quando as olho. Deixo aqui uma fotografia destas últimas na esperança que isso se pegue.

10 comentários:

  1. que texto comovente...

    lindo registro de tempo e espaço emocionais.

    a textura da foto mais a cor fizeram reabrir o portal do tempo.

    belo trabalho.


    um beijo, J.

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  2. Igreja de Santa Maria da Graça (Sé de Setúbal) ?!?!?!?

    Beijinho e bom fim-de-semana

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  3. pois, dito assim, a coisa arrisca-se mesmo a pegar, como uma febre terçã mas ao contrário, benigna...

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  4. "Brecha da Arrábida", rocha ornamental única no território, de natureza sedimentar, conglomerática. Inconfundível. Gratas recordações! :) bela foto!
    E é verdade, abrir-se-ão novamente para as praias ou taludes que lhe deram origem, ou mergulharão fundo na crosta originando mármores, ou, mais fundo ainda, novos magmas, que neles guardam as memórias e as relíquias da superfície.
    Com o tempo, e por cá já não estaremos, veremo-los de novo à superfície formando montanhas, compondo relevos ímpares de paisagens que contam a história de como as rochas viajam por entre a terra, de como as rochas se erguem em colunas pela mão do Homem que as sonha imortais.
    Tudo isto, dentro de uma fotografia.

    Grato José, pela partilha das suas escritas em sinergia com o olhar que as vislumbram e enformam nas mais belas imagens e recordações.

    Abraço!

    Gostei muito! :)

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  5. e é que vai pegar mesmo, com este pregador de palavras e de luz.

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  6. Confesso que após ler o que escreveu, fechei por alguns momentos os olhos e dei largas à minha imaginação.
    Será que isso quer dizer que pegou?

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  7. Confesso que não costumo abusar das casa dos outros para insituar diálogos renitentes, mas vejo-me obrigado a dirigir a minha atenção ao caro sr. Ruimnm: "este pregador" tem nome, valha-nos ao menos esse apontamento, para que assim possa situá-lo. Passar bem.

    Imensas desculpas José.

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  8. Ok, já percebi! Ilumina o texto com a luz da fotografia e ilumina a fotografia com a luz do texto. Está certo!

    JR

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  9. não deixemos morrer o imaginário, pois então...

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  10. E como não? Talvez se eu as visse em seu sítio original não as sentisse tão oníricas quanto na tua bela foto, e na descrição das tuas palavras comovidas. A arte é isso, faz com que tudo se pegue.

    Abraço!

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Obrigado pela visita.
As suas palavras são importantes.