20100919

Ninfolepsias


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Uma claridade que das ruínas emana, um casulo de tempo e de luz. Essa luz como um véu, talvez centenas de véus, para ser mais preciso. Cada um sobre o outro sem se tocarem nunca.
Esse nimbo de idades protege-as, ao contrário do que possa parecer à primeira vista. É essa sobreposição de tempo que origina esse casulo a que me refiro.
O que o olhar vê é sempre outra coisa que não está ali, embora exista. É essa existência nimbada que as caracteriza. Esta circunstância parece causar uma espécie de ninfolepsia, palavra estranha que se refere frequentemente àqueles que desejam a solidão dos bosques embora, e a meu ver acertadamente, segundo os antigos, se relacione com aquilo que supunham ser o delírio próprio do homem que tivesse visto uma ninfa. As ruínas, algumas ruínas, são-no precisamente em certa medida.

12 comentários:

  1. Faz-me lembrar os conventos de S.Paulo em Setúbal.

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  2. Mal vi a fotografia, tive uma estranha sensação de déjà vu.
    Será que conheci este lugar "numa outra vida"? ;-)

    Fiquei rendido à luz. À eterna luz!

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  3. como se pode chamar ruína aonde está uma árvore? a sua melhor foto! um abraço*

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  4. j,

    eu acabo de descobrir, por conta da narrativa encantada, que sofro de tal vontade de bosque,

    mas não sabia que tinha nome
    e muito menos que era por causa da visão deslumbrante de ninfas...

    eu posso jurar que as vi na foto.

    aliás,

    que foto!

    um beijo, um bosque.

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  5. ...pronto, já aprendi uma palavra nova.E bela!

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  6. Mágica.
    Também estou retido na luz e sombra desse bosque...

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  7. A fotografia excelente, acompanhada por este magnífico texto deixou-me rendida.
    Gosto das árvores mesmo em ruínas e gosto da luz que por elas passa e nelas permanece...
    Um beijo, amigo.

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  8. O que o olhar vê é sempre outra coisa que não está ali, embora exista... algo como aquilo que não vemos não significa que não exista...
    A luz como um véu... centenas de véus... curiosamente, ontem, em um dos meus passeios a pé parque florestal adentro, passei numa casa que venho fotografando consoante desmorona. Lendo agora sobre os véus, sim, a cada telha que foi, a pedra que caiu, acrescentou-se-lhe um outro véu. De luz, poeira, idade.

    Se a fotografia é linda, o texto é tão tão tão...

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  9. Imagem misteriosa e cativante. Já agora, pode-se saber onde fica?

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  10. São esses mesmo,Chapa.
    :)
    Hugo,
    Trata-se do mosteiro de Nossa Senhora da Consolação de Alferrara, mosteiro masculino da Ordem de São Paulo. Teve a sua origem num eremitério já existente no ano de 1385. O monarca D. Afonso V outorgou-lhe os mesmos privilégios que ao mosteiro de Serra da Ossa, no Redondo. Actualmente é propriedade pública. Situa-se na Serra, entre Setúbal e Palmela. Também é localmente conhecido pelo convento de S. Paulo. De momento o acesso está interdito já que o edifício constitui perigo porque pode ruir, conforme informação no local. É um sítio isolado e de não muito fácil acesso.
    Como é um dos meus lugares de mistério e fascínio desde miúdo vou até lá mesmo assim… mas só mesmo conhecendo o sítio muito bem…
    Obrigado pelo interesse. Um abraço.

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  11. "Actualmente é propriedade pública."

    E é assim que o estado trata o seu património?

    Existe pelo menos uma vantagem, é que me fascinam estes locais abandonados, sejam igrejas, fábricas, solares. Tenho de reunir um grupo para algumas expedições.

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  12. cruzei-me uma vez, juro, com uma ninfa, isto é, avistei-a de relance reflectida num charco, as águas paradas e sem vento, ao fim da tarde, num daqueles momentos raros em que de um lado se vê ainda o sol e do outro já de vê a lua, não sei se isto interessa para o caso, mas vi-a ali mesmo na água a olhar para mim e a sorrir, não sei se a troçar de mim... voltei-me, um restolhar nos loureiros e mais nada
    olha, é a vida

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