20100806

Do calor


Uma sombra. 38º sob essa concha. 42 fora dela. O calor protege-te. Ninguém no seu perfeito juízo para aqui vem livremente. Tanto te faz que à noite a temperatura desça um pouco e que seja esse o principal assunto das conversas. Interessa-te apenas as três horas da tarde. Mergulhar nessa ausência momentânea, nessa espécie de vertigem que a suspensão da actividade humana sempre te provoca.
(Alentejo-Agosto)

4 comentários:

  1. dentro da concha um esconderijo feminino, provavelmente...

    quanto ao curioso fato de nas quinze horas do dia haver a espécie de vertigem que a suspensão da atividade humana provoca, minha avó, uma mulher italiana e mística, dizia-me que era a hora dos anjos nos levarem depois da morte... como se um portal se abrisse e que se estivéssemos dormindo em tal hora, sentiríamos o torpor entre mundos ... achei proximidade entre o que ela me dizia e o que li aqui.


    a foto é bela em enigma!

    um beijo, meu amigo.

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  2. José,
    as tríades são entidades poderosas. Mas não é por elas que a imagem e o texto chamam, é o fado penoso em que o alentejano se queda entre o alheamento, a lassitude e a conformação. Hora em que a aldeia e os campos desertam.
    E a poesia não pede desertos?


    [Betina, gostei de ler também esses enigmas da sua avó]

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  3. O querido alentejo e o seu "famoso" calor...não só a nível de clima mas também a nível das pessoas oriundas dessa zona.


    Beijos

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