20100612

A cor da cal




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A cal não tem cor. É luz fóssil aprisionada numa concha imaginária. Cresce com o tempo, como uma espécie de pele das casas, camada sobre camada.
 Tento captar a sua respiração antiga, o sal que lhe nasce por baixo como se aí existisse uma praia. Decoro-lhe as formas como quem memoriza uma palavra caída em desuso ou um mapa, a forma como se arredonda como um seixo na curva entre o corredor e a escada.

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5 comentários:

  1. Gosto! os dois planos parecem flutuar e trocar os papéis.

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  2. Excelente composição visual e poética, atrás das palavras.

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  3. a cal tem toda a cor do mundo!!! (sou do contra,eheh) basta olhar para esta foto! dois planos maravilhosos :)

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  4. Devaneio em branco :)...

    Branco... traz-me cal e naftalina. A naftalina evapora-se ao contacto com o ar. Ao invés, a cal, camada sobre camada, como escamas que as mulheres alentejanas sobrepõem no cuidado das suas paredes, faz com que as esquinas percam os contornos iniciais e surjam sob nova aparência.
    E ai, quando aprisionado sob camadas várias, no seu interior, o branco não tem de facto cor. Já quando exposto à luz, a sua última pele ganha toda essa luminosidade vibrante.
    :)

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  5. Registo...

    o belo registo da luz e da sombra!

    Saudações poéticas

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