20100530

As casas


Gosto deste som de sombra, ouvido do lado de dentro. Como um búzio concebido para as longas tardes de calor ou os dias duríssimos de Inverno.
Não te sei explicar esse som. São precisas várias coisas. Uma porta de madeira, um corredor , ao fim desse corredor um pequeno pátio. As portas têm de ter vidros coloridos antigos, martelados, com tons quentes. Ouves o som e não te mexes. Fica preso na tarde como uma lagartixa ao sol, ou o sino de um mosteiro tibetano. A casa torna-se como que abandonada contigo lá dentro. Quando vais ver quem bateu à porta já não há ninguém. É assim. Com pequenas variações.

9 comentários:

  1. fantasticas tus fotos muy buen blog felicitaciones un saludo

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  2. Há sempre alguém do outro lado da porta...
    Correndo um risco tremendo de não estar à altura da tua sensibilidade e da tua aptidão artística e literária, venho, corajosamente, dizer-te que aprecio muito o teu trabalho neste blog.
    Hermínia

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  3. j,

    só por observar a porta e a mão que nela se coloca, com todo o tempo impondo um grande acréscimo na tinta que reveste a madeira, eu sinto ressoar em meu ouvido-coração um som bem próximo do que poderia ser o descrito. acredito que sua descrição tenha sido perfeita, então.

    o contraste com a jovem mão em par no azul da outra postagem dá ainda uma sensação de abandono espetacular, mas não de tristeza e sim de exílio.

    lindo trabalho!

    um beijo.

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  4. Voltou...que bom que é poder revisitar-lo.

    Bonitas fotografias, bonito texto a que já nos habituou mas que é sempre bom elogiar.

    Um beijinho

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  5. Há uma história chinesa que fala de alguém que vive no cimo de um monte. Um dia, batem à porta, e do interior pergunta... Quem é?.
    Do lado de fora, uma voz responde Sou eu.. E o morador dentro não abre.
    Pouco depois, de novo, batem. E, uma vez mais, o alguém dentro pergunta Quem é? e o de fora repete Sou eu e o de dentro mantém a porta cerrada.
    À terceira vez que batem, ao Quem é?, o de fora responde És tu. E o de dentro, por fim, abre.

    Pretende esta história explicar que, para haver comunicação, são necessários um eu e um tu, pois só assim se faz diálogo.

    Não foi exactamente para falar de teorias da comunicação que a trouxe. Ou talvez sim. Porque, enquanto o eu se deixar delongar na tarde ao sol, o tu terá partido quando a porta se abre, porque entretanto se fez noite.

    Gosto do remate plissado que abraça o punho, e da vontade com que os dedos tentam prender a bola pesada e fugidia :)

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  6. Gosto das portas com mãos e garras de leão. e quando batemos a essas portas, parece que é a outra e não a nossa mão.

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  7. Vim ler os "escritos", curiosa.
    Gosto tanto! Nem digo mais nada!

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